A nova situação da arte contemporânea mostra, com o passar do tempo, a necessidade de uma resposta eficaz do ponto de vista da conservação (Althofer, 2003, p.9). A conservação e restauro deve adaptar-se à nova arte. O carácter público da arte actual, a multiplicidade de técnicas e materiais reflectem o nosso modo de estar na vida na actualidade. Cada vez mais, a arte contemporânea converte-se em algo, por vezes, indefinido. No entanto, se por um lado a arte é mais arte (Althofer, 2003, p.9), por outro, alguma dessa arte é concebida para se deteriorar.
A conservação de obras executadas com métodos e técnicas tradicionais permanece no âmbito da conservação tradicional. Ficam, portanto, por resolver unicamente os problemas técnicos novos. Há que ter a noção de que a técnica, com os seus problemas específicos, não pode ser o único ponto de orientação para o conservador. Como afirma Althofer «a sensibilidade, a consciência e a própria responsabilidade e visão histórica são aspectos indispensáveis» (2003, p.10). Segundo o mesmo autor, uma manipulação irreflectida e puramente centrada no objecto, conduz mais facilmente ao erro e incoerência técnica. Assim, sugere uma interpretação a ter em três tipos de objectos :
· objectos que podem ser considerados e tratados como obras de arte tradicional;
· outros que tecnicamente geram novos problemas, sendo necessárias implantações de novos materiais e técnicas no âmbito da conservação e restauro;
· e uns que exigem uma análise “ideológica” preliminar do problema do restauro.
No primeiro caso, podem-se empregar métodos e materiais de restauro já provados e eventualmente adaptados a uma dada situação. No segundo caso, pode ser útil a modificação dos métodos tradicionais, mas é necessário introduzir novos materiais e técnicas para solucionar os diferentes problemas que se colocam. Para este fim é importante ter experiência prática no campo da pintura contemporânea e da conservação e do restauro. No terceiro e último caso, é preciso estabelecer um novo corpo teórico baseado na nova situação da arte contemporânea, que tenha em conta a história do pensamento passado e actual. É a obra de arte que determina a forma como deve ser observada e os métodos de conservação que lhe são aplicáveis (Althofer, 2003, p.11).
Segundo Mariana Bastos (2005, p.22), antes de qualquer intervenção, seja ela directa ou indirecta, é importante saber se existe discrepância entre a condição física e o significado da obra.
Se a alteração do objecto for produzida conscientemente, então o significado da obra está relacionado com a sua própria degradação. Neste caso, a conservação implicaria uma acção que iria afectar o significado da obra.
Quando a degradação interfere directamente com o significado da peça será importante reflectir, atempadamente, sobre quais os aspectos a ter em conta na proposta de conservação e restauro. Talvez uma forma de resolução desta problemática passe pela participação do próprio artista. A contemporaneidade das obras permite não só o contacto directo com o artista, como uma melhor compreensão dessas obras, uma vez que fazem parte de um mundo actual e também ele “contemporâneo”, e no qual nos inserimos. Se o artista for vivo, a sua opinião, além das suas informações técnicas e plásticas, podem ser uma mais valia para uma intervenção segura.
É de ter em conta que a coexistência de diferentes materiais numa obra de arte pode exigir a intervenção de diferentes especialidades da conservação e restauro, bem como o recurso a especialistas de outras áreas do saber. Na verdade, todas as considerações multidisciplinares são uma importante fonte de informação para a tomada de decisões.
É importante avaliar todas as situações, para que seja possível estudar novas formas de intervenção. A ciência terá necessariamente um peso importante no avanço técnico e tecnológico na área da conservação e restauro. É importante que se continue a trabalhar em novas técnicas e em novos materiais, para fazer face a estes novos desafios.
ana.bailao@gmail.com
Referências bibliográficas
ALTHOFER, Heinz (2003) – Las dos finalidades de la restauración in Restauración de Pintura Contemporânea, Tendências, materiales, técnica. 2ª Edição. Madrid: ISTMO.
BAILÃO, Ana (2004) – Relatório de estágio final de curso. Conservação de Pintura Contemporânea. Tomar, Instituto Politécnico de Tomar (não publicado).
BASTOS, Mariana (Junho 2005) – Arte Contemporânea: quais os critérios de conservação e restauro? Pedra & Cal. N.º 26 Abril. Maio.