
Resumo
No âmbito de um estudo sobre os materiais e as técnicas do pintor eborense Francisco João (activo entre 1563 e 1595), foi analisado o painel central do retábulo-mor da igreja matriz de Pavia (Mora, Portugal), representando A Conversão de São Paulo a Caminho de Damasco, atribuído ao pintor. Tendo como objectivos a identificação dos materiais responsáveis pela cor e a caracterização do processo de execução pictórica e do manuseamento das tintas, a pintura foi examinada in situ, à vista desarmada e com o auxílio de uma lupa e recolheram-se nove amostras. Estas foram analisadas através de microscopia óptica, microscopia electrónica de varrimento com espectroscopia de raios X (SEM-EDX), espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) e cromatografia de camada fina de alta eficiência (HPTLC). Verificouse que, sobre uma preparação de gesso e cola animal, a pintura foi executada com branco de chumbo, amarelo de chumbo e estanho, ocre amarelo, mínio, ocre vermelho, vermelhão, azurite, verdigris ou resinato de cobre, negro de carvão e uma laca vermelha, não identificada. Na maior parte das amostras, foi observada a existência de dois ou três estratos de cor sobre a preparação, devendo-se essa sobreposição, de um modo geral, ao processo de modelação do pintor e não à sobreposição de motivos. Em cada estrato, a cor foi geralmente obtida pela mistura de um pigmento colorido com branco e, em dois casos, foi usado um pigmento puro. Apenas nos estratos de cor vermelha foram detectadas outras misturas, com maior número de materiais.
MELO, Helena Pinheiro de; CRUZ, António João - As cores de um painel do século XVI, da igreja matriz de Pavia (Mora, Évora), atribuído ao pintor Francisco João. Revista Conservar Património. Lisboa: ARP, nº 9 (2009), p. 47-55.