23 de fevereiro de 2007

Notas sobre os sistemas de captura de imagem do desenho subjacente por meio da fotografia digital de infravermelho

A utilização de sistemas que tenham a capacidade de capturar radiação infravermelha, quando aplicados ao estudo técnico de obras de arte, permitem em certa medida, quando adaptados, capturar imagens do desenho subjacente em pintura do século XVI.

Os três sistemas convencionais conhecidos são: a fotografia com película sensível ao infravermelho, a reflectografia de infravermelho (Bonford 2002: 10-25) e mais recentemente a fotografia digital.

Numa breve resenha das metodologias, já relatada numa vasta bibliografia, podemos começar por referir que a fotografia de infravermelho é concebida de forma semelhante à fotografia convencional. Tem a particularidade de ser necessário utilizar um filme sensível à banda de infravermelho do espectro, a colocação de um filtro de gelatina ou vidro na objectiva da câmara, e utilização de tempos de exposição elevados, sujeitos a ensaios de temporização. A imagem obtida em tons de cinza pode ser contrastada para evidenciar o desenho subjacente, e as descontinuidades da superfície do tipo de repintes.

Quanto à reflectografia de infravermelho, uma técnica desenvolvida nos anos sessenta por J.R.J. van Asperen de Boer, permite captura de imagens por intermédio de uma câmara de vídeo (chamado vidicon). Este sistema, apesar de utilizar comprimentos de onda superiores, na prática, reflecte-se no atravessamento estratos cromáticos de maior espessura em relação ao sistema fotográfico acima referido. Em algumas situações, consegue atravessar, ainda que com dificuldades, pigmentos verdes e azuis à base de cobre. É frequente que o resultado final deste processo, o da reflectografia, apresente imagens com aberrações esféricas, que dificultam o processo de montagem em mosaico, sobretudo, quando se quer caracterizar uma extensa área da pintura.

O sistema de fotografia digital é concebido pela elevada sensibilidade dos sensores CCD (charge-coupled device) das câmaras digitais, removendo mecanicamente os filtros interiores, ou utilizando o switch de determinadas câmaras que permitem a leitura em nightvision. Podemos referir, que o sistema em Portugal tem sido pouco desenvolvido nos últimos anos, conhecidas as primeiras aplicações nas “Tábuas da Charola” de Tomar em 2002, e posteriormente os registos do “Painel de Miragaia”, no Porto. Pensamos que de momento, a aplicação deste sistema já se encontra generalizada, por parte de alguns conservadores-restauradores, das instituições e das universidades, uma vez que o seu custo é significativamente inferior em relação ao sistema de reflectografia de infravermelho.

Para a captura de imagem é suficiente recorrer às técnicas tradicionais de fotografia. Estas, como está amplamente estudado, implicam fazer um bom enquadramento e nalguns casos o controlo de fotometria, quando não seja automática Na figura abaixo apresentamos um registo fotográfico, onde utilizámos uma câmara fotográfica Sony F-717 ®, manipulando o switch para nightvision. A validação da leitura no infravermelho curto foi feita comparando a captura de imagem com e sem filtro. No nosso caso, utilizámos um filtro hight-pass aos 900 nm, especificamente o RM90 da Hoya ®.

A imagem depois de capturada foi tratada num programa comum de edição de fotografias, com ajuste dos níveis, com filtro sharpen e passagem para tons de cinza.

No registo fotográfico é possível observar o desenho subjacente, a técnica do mesmo, de uma das figuras do lado esquerdo do painel “Entrada de Cristo em Jerusalém”, em Tomar.


Frederico Henriques